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“Ninguém nos escuta”: A polemica da volta as aulas presenciais em São Paulo

Após o anúncio do prefeito Bruno Covas (PSDB) de marcar a volta as aulas presenciais do ensino médio para a terça-feira (dia 3), as opiniões se dividiram. Os críticos a medida apontam que diversas escolas no mundo desistiram do retorno devido ao aumento de infecções pelo novo coronavírus e citam as dificuldades sanitárias brasileiras. Os favoráveis, por outro lado, alertam para os prejuízos a longo prazo para a educação e saúde mental dos estudantes após tanto tempo de confinamento.

Diego Higoshi, vendedor de 33 anos e pai de uma menina de 7 anos, está a favor: “Minha filha vai bem nas aulas online, mas acho que não são suficientes. A escola é muito importante para o aprendizado, fora que eu tenho um pouco de estudo e tempo para ajudá-la, mas vários pais não. Se seguirem todas as medidas de segurança, não terão problemas.”

Já o professor universitário Bruno Liberato é contra: “Aqui no Brasil estão agindo como se a pandemia já tivesse acabado. Não estão pensando nas evidências, tudo é decidido pela vontade dos governantes brigando entre si. Ninguém pensa nos números de casos e leitos. Nós falamos e ninguém nos escuta. Em novembro o ano letivo já aconteceu, estamos fechando as notas.”

O decreto, embora autorize o retorno, estabeleceu uma série de recomendações: Alunos que convivem com pessoas acima de 60 anos continuam em casa, as escolas devem funcionar com apenas 20% da capacidade e fazer uso de máscaras e álcool em gel, entre outras regras.

Carlos Medeiros, diretor de uma escola pública em Cidade Tiradentes, um dos bairros mais pobres da cidade, permanece contrário a decisão. Ele define a situação da educação como “sucateada” e acredita que as coisas já estavam piores para o ensino estadual antes da pandemia. “Mesmo em regiões pobres as escolas privadas acabam avançando mais, porque as públicas vivem de festas e donativos. Houve sim, nos últimos anos, maiores repasses a educação, mas ela ainda é tratada com viés de mercado. Apoiar as escolas é entendê-las como um bem social, humano e não como uma reserva de mão de obra barata.”

Ele continua: “Efetivamente não vejo amparo das autoridades, já que a incerteza e a má administração da crise descoordenada entre as esferas de poder, unidos a preocupação com a geração de capital através do trabalho da população pobre criou insegurança em toda a rede de educação, desgastando inclusive relações entre escolas e comunidades. Durante o ensino remoto, os estudantes tiveram muitas dificuldades: Pouco acesso à internet, vários responsáveis perderam seus empregos, muitos tinham apenas um celular para fazer as aulas, alguns dependeram de doações, estão em extrema vulnerabilidade.

É impossível estarmos seguros para retornar, já que a doença ainda não apresenta nenhum controle efetivo ou tratamento preventivo. Para além de pensar a volta, é essencial que o governo repense a situação da população a nível financeiro, emocional e social.” finalizou.